Mitos e verdades sobre a recuperação abdominal pós parto

Após o parto, muitas mulheres sentem-se pressionadas a recuperar rapidamente a forma física que tinham antes da gravidez. Esta pressão, aliada à quantidade de informação (nem sempre correta) que circula, pode levar a expectativas irrealistas e até mesmo a práticas prejudiciais para a saúde.

Após o parto, muitas mulheres sentem-se pressionadas a recuperar rapidamente a forma física que tinham antes da gravidez. Esta pressão, aliada à quantidade de informação (nem sempre correta) que circula, pode levar a expectativas irrealistas e até mesmo a práticas prejudiciais para a saúde.

Como explicamos nos nossos artigos “A diástase abdominal” e “Barriga lisa“, a recuperação abdominal é fundamentalmente uma questão de saúde, não apenas estética. Vamos esclarecer os principais mitos e verdades sobre este tema.

MITO: “Todas as mulheres recuperam naturalmente a barriga após o parto”

VERDADE: Infelizmente, isto não acontece à maioria das mulheres. Como referimos no artigo “A diástase abdominal”, embora por vezes esta situação se resolva espontaneamente entre as 4 e 8 semanas após o parto, isto não acontece na maioria dos casos, nem nos anos seguintes. Cerca de 60% das mulheres apresentam diástase abdominal após o parto, e sem intervenção adequada, esta pode persistir indefinidamente.

MITO: “Fazer abdominais tradicionais resolve a diástase”

VERDADE: Os abdominais tradicionais (como os “crunch”) podem até piorar a diástase abdominal! Estes exercícios aumentam a pressão intra-abdominal e podem forçar ainda mais o afastamento dos músculos. Como mencionamos, a escolha dos exercícios abdominais deve ser pensada, tendo sempre em conta uma avaliação prévia da diástase. É fundamental trabalhar o equilíbrio entre postura e força, envolvendo a musculatura abdominal, o diafragma e o pavimento pélvico em conjunto.

MITO: “A diástase abdominal só afeta a aparência da barriga”

VERDADE: A diástase não é apenas uma questão estética! Como explicamos, a parede abdominal tem um papel extremamente importante no controlo postural, na estabilidade lombo-pélvica, na respiração e no suporte dos órgãos. O afastamento dos músculos pode provocar alterações mecânicas do tronco, instabilidade pélvica e alterações posturais que podem originar lesões na coluna lombar ou na bacia.

MITO: “Só quem teve partos múltiplos ou bebés grandes desenvolve diástase”

VERDADE: Qualquer mulher pode desenvolver diástase abdominal durante a gravidez. Embora fatores como partos múltiplos, bebés grandes ou múltiplas gestações possam aumentar o risco, a diástase pode desenvolver-se durante o segundo trimestre de qualquer gravidez devido às alterações hormonais e à sobrecarga mecânica sobre a parede abdominal.

MITO: “Usar faixa abdominal resolve o problema”

VERDADE: As faixas abdominais podem proporcionar suporte temporário e conforto, mas não “curam” a diástase abdominal. A recuperação efetiva requer exercícios específicos de fortalecimento global, respiratórios e posturais. As faixas podem ser úteis como apoio durante a recuperação inicial, mas não substituem o trabalho ativo de fortalecimento muscular.

MITO: “Quanto mais cedo começar a fazer exercício, melhor”

VERDADE: É importante começar de forma gradual e no momento certo. Como referimos, deve começar preferencialmente após a consulta de obstetrícia, com intensidade moderada e progressão adequada à sua condição. Começar muito cedo ou de forma muito intensa pode ser contraproducente e até prejudicial.

MITO: “Se passou muito tempo após o parto, já não vale a pena tratar”

VERDADE: Nunca é tarde para começar! Como mencionamos no artigo “Barriga lisa”, não se esqueça que nunca é tarde para iniciar a prática de exercício físico adequado, quer tenham passado 2 meses ou 10 anos após o parto. A musculatura pode sempre ser reeducada e fortalecida com o programa adequado.

MITO: “A diástase abdominal só se resolve com cirurgia”

VERDADE: É possível tratar a diástase abdominal sem cirurgia na maioria dos casos! Dependendo do seu tamanho, pode ser tratada eficazmente com exercícios específicos de fortalecimento global, respiratórios e posturais. A cirurgia geralmente só é considerada em casos muito severos ou quando o tratamento conservador não apresenta resultados satisfatórios.

MITO: “Todas as diástases são iguais”

VERDADE: Cada mulher é única e cada diástase também! Como enfatizamos, todas as mulheres são diferentes e as suas diástases também. O que funciona para umas pode não funcionar para outras. Por isso é fundamental uma avaliação individual e um programa personalizado.

A avaliação da diástase abdominal realizada por uma fisioterapeuta é o primeiro passo essencial para a recuperação. Esta avaliação permite confirmar ou não a presença da diástase, medir a sua extensão e identificar possíveis problemas associados. Só assim é possível definir o tratamento mais adequado para cada caso, incluindo exercícios específicos e orientações sobre postura adequadas à sua situação particular.

MITO: “Perder peso resolve automaticamente a diástase”

VERDADE: Embora manter um peso saudável seja importante, a perda de peso por si só não corrige o afastamento dos músculos abdominais. É necessário trabalho específico de fortalecimento e reeducação muscular para restaurar a função adequada da parede abdominal.

A importância das expectativas realistas

É fundamental compreender que a recuperação abdominal pós-parto é um processo que requer tempo, paciência e trabalho consistente. Cada mulher tem o seu ritmo e as suas particularidades. O importante é focar-se na saúde e funcionalidade, não apenas na aparência.

Lembre-se: cuidar da sua diástase abdominal e da recuperação abdominal é, antes de tudo, cuidar da sua saúde. Como sempre dizemos, cuide de si para poder cuidar melhor do seu bebé.

Barriga lisa

Após o parto, uma das preocupações das mulheres é recuperar a forma física que tinham antes da gravidez. Mas será que todos os treinos são adequados para a sua condição atual?

A diástase abdominal

Durante a gravidez, observa-se um aumento da distância entre os músculos abdominais. Este afastamento entre os músculos abdominais deve-se ao estiramento exagerado e à diminuição da espessura da linha alba, designando-se de diástase abdominal.